Polícia investiga suposto estupro em boate que pertence a deputado estadual e a capitão da PM no RJ
Mulher acusa dois funcionários e diz que Filipe Poubel (PSL) e Capitão Diogo estavam no evento. Funcionários negam as acusações. Casa noturna em Cabo Frio funcionava ilegalmente durante a pandemia.
Por Lívia Torres, Bruno Sponchiado e Douglas Lima, Rio de Janeiro 06 de julho de 2021 às 19h36

Além de Poubel, eleito pelo em 2018 com 27 mil votos, e Capitão Diogo, uma mulher também é sócia do espaço: Ediléia Freire Cecconi.
Ediléia aparece nas redes sociais como vendedora de bolo e pirulitos personalizados.
Diogo se descreve nas redes sociais como "Capitão Diogo", oficial da Polícia Militar. Em um vídeo, divulgado em abril desse ano, ele diz que pediu demissão da PM por ter "visto e vivido injustiças". A PM diz que ele está lotado no 22ºBPM (Maré), em processo de demissão a pedido.
Em 2018, Capitão Diogo foi candidato à Prefeitura de Cabo Frio pelo PSDB e ficou em quarto lugar, com 3,7 mil votos.
Diogo e Poubel são amigos e aparecem em várias fotos juntos dentro da boate em que são sócios. Numa delas, estão juntos com outros políticos, como o deputado federal Carlos Jordy (PSL) e o vereador Gabriel Monteiro (PSD)
O que diz a vítima
A mulher conta que esteve na boate em Cabo Frio, ingeriu bebida alcoólica, ficou inconsciente, e que foi vítima de abuso sexual praticado por dois funcionários do local. Segundo testemunhas, o deputado e o PM estavam na boate no dia.
"Eu misturei, tinha bebido vodca, comecei a beber um drink pronto com energético. Eu bebi várias desses. Mas isso nunca aconteceu comigo de entrar em coma alcoólico e apagar dessa forma, isso nunca tinha acontecido antes", contou ao RJ2.
Ela afirma que, quando acordou, já estava no segundo andar da boate.
"Eu tinha uma ideia que o segundo andar era tipo uma espécie de área VIP, camarote, algo assim que me chamaram, não lembro realmente como fui parar lá. Lembro quando uma amiga chegou lá em cima tentou me acordar, não consegui e vi um vulto, um deles estava de uniforme, ainda assim continuei apagada."
Um homem amigo da vítima, que também pediu para não ser identificado, conta que procurou pela mulher e a encontrou jogada em um sofá.
"A gente subiu, até então, nesse espaço estava fechado em obras, e não tinha nenhum tipo de isolamento, segurança ou nada que não deixasse entrar. Subimos e, quando chegamos, era um lance de escada e lembro de ter visto ela jogada no sofá, de perna aberta, desacordada, na frente dela tinha dois caras. Era um lugar muito escuro, que estava desativado."
Ele conta que tentou buscar ajuda, mas foi impedido pelos seguranças do deputado Filipe Poubel. E que o próprio deputado o xingou com ofensas homofóbicas.
"Eu lembro dele falar 'ele voltou, deve subir, vamos atrás dele'. Quando eu subi, o Poubel ordenou os sete seguranças dele. Me seguraram, tentaram me agredir, me deram um 'mata-leao'. Eu lembro dele dando muita ordem: 'segura esse viadinho de merda, quer tumultuar minha casa'. Fazia muita palavras de injuria e homofobia, ele tava perto de mim. Ele e o seguranças."
Uma outra testemunha, que também prestou depoimento, contou uma versão parecida: que se deparou com a amiga deitada num sofá, de vestido preto, perna aberta e que a calcinha dela estava para o lado. A testemunha disse não ter visto se a amiga estava suja e que, na frente dela, estavam dois funcionários da casa.
Investigação
O caso foi registrado na delegacia da mulher de Cabo Frio. O RJ2 tentou entrevistar a delegada, mas a polícia respondeu que a investigação está em sigilo. A equipe de reportagem apurou que, até esta terça-feira (6), oito pessoas haviam prestado depoimento.
Só em julho, mais de um mês depois que o registro de ocorrência foi feito, policiais estiveram na boate e apreenderam o sofá para que uma perícia fosse feita.
A vítima fez um exame toxicológico e deixou o vestido, que foi usado no dia, no Instituto Médico Legal, mas o resultado do laudos ainda não saiu.
Segundo a advogada Letícia Delmindo, a investigação não avança e a boate segue em funcionamento.
"É mais do que necessário o comparecimento de todos para auxiliar nessa investigação. Mas o cenário que aparece é outro, proprietários não aparecem em sede policial, permanecem em silêncio e quando se apresentam colocam como se a mulher fosse culpada. Não juntam as câmeras de segurança, o sofá onde foi o delito não é apresentado. E o pior: [o local] continua funcionando como se nada tivesse acontecido", diz a advogada Letícia Delmindo.
"Além do abalo e prejuízo que eu estou tendo, ainda estou abalada. Eu quero resolver, quero a responsabilidade, a resposta."